domingo, 28 de agosto de 2011

Serenidade
de um pôr do sol
Metafórica
na ausência dessa luz
Patologia
de uma longa espera
Agonizante
até que o dia me seduz

Troco as noites pelos dias
a penumbra pela claridade
o ócio pela vontade
e o desprezo pela saudade

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

cresce o vil asco
pela indolência alheia
e eu não gosto
do veneno em mim
cresce o meu carácter
quando sinto a ausência dele
mas arranha-me a alma
a gente suja

terça-feira, 23 de agosto de 2011

sinto um manto em cima de mim
aqui dentro tudo fervilha
em espasmos lentos
de opeáceos endógenos
e o manto arde-me a imagem
sinto a força para o levantar
um vento quente que o empurra
agarro-me a ele e cravo as unhas
com a mínima das vontades
mas a mais doce coragem
sinto a razão aos ombros
e a febre no corpo inerte
de quem não quer fugir
nem sair nem voltar
mas de quem sonha inaugurar

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Curioso como às vezes ouvimos dizer "construir um futuro" como se mandasse fazer uma casa. Aquelas ideias de que está na hora, estamos na idade, encontrámos com quem, não passam de falácias sociais imprimidas por um projecto de vida idealizado como se de uma lei se trasse. Eu próprio já passei por momentos em que pensei assim...
A verdade é que aquilo que procuramos construir é um passado... ambicionamos pegar na constelação de acontecimento e momentos, ideias e memórias, tristezas e alegrias que ambundam em frenezim nos nossos corações e edificar um passado compaco e inerte, que fique onde está, no passado, e nos permita a veleidade de recomeçar...
É impossível construir um futuro. Não temos matéria prima. Podemos planear e desejar e ambicionar, mas cada dia que passa, cada caminho que percorremos, cada acontecimento que vivemos é mais um dia vivido que do nada passa de futuro a presente e volve ao passado sem que antes tenha deixado em nós aquela que um dia foi a marca do futuro que queríamos construír... Resta-nos saber viver o presente...